Próximo ano completo meio século, mas desde 2009 venho falando que estou chegando pertinho dos 50. Meus filhos acham engraçado quando falo assim. Mas sinceramente nunca foi problema para mim assumir minha idade. Acredito que saber envelhecer é um dos segredos da felicidade. As rugas e cabelos brancos que começam a visitar meu corpo, não me assustam. Ser chamada de senhora por pessoas não muito longe de minha idade me incomoda um pouco, mas só um pouco hehehe.
Bom, tenho orgulho do que já vivi e quando penso nos erros e micos, logo lembro do que aprendi com eles. E assim vou levando a vida. Só que antes-de-ontem; ah o dia de antes-de-ontem, encontrei no meu caminho um garoto de 20 e poucos anos que me envelheceu 11 anos. O rapaz me colocou por alguns minutos em desequilíbrio. Pode?
Contando o acontecido: tive que ir na prefeitura comprar minha nota fiscal de prestação de serviço da casa de passagem que trabalho aos sábados. Gente, o povo lá dentro era imenso. Nunca vi tanta gente junta num espaço tão pequeno. Comportadinha como sou hehehe, fui enfrentar a fila de pegar primeiro a senha, para depois penar em outra maior ainda para fazer a tal nota fiscal. Quando consegui chegar no balcão, pedi a senha para a nota e perguntei se havia muitos na minha frente. A resposta: 26 números.
"Pirei" na batatinha, arregalei os "zóis", senti até falta de ar pensando nas pelo menos três horas que deveria ficar trancada naquele forno até chegar a minha vez. O serviço na prefeitura daqui é "bucha" viu?! Resolvi então desabafar ao garoto: "Tudo isso?" Foi aí que o "simpático rapaz" disse "Mas a senhora pode pegar a fila especial."
"Hum"!!! Fui logo pensando que era por causa do Murilo (aquele menininho do castelo da postagem anterior). Aqui em Floripa, mulheres com crianças também tem a senha preferencial. Nem terminei de pensar na possibilidade, o tal moço vira e fala: "Senhora, a preferencial é sua, não temos nenhum idoso na frente." "Como assim?" - perguntei assustada. E ele me responde, assim, sem pena: "A senhora tem mais de 60 anos, não é mesmo?".
A sorte daquele garoto é que havia um balcão entre nós dois. Fiquei roxa, vermelha, verde, azul; um arco-íris de vergonha. "Desculpa querido, mas ainda não cheguei nos 60. Agradeço a atenção viu!" E sai indignada.
No momento pensei no meu chronos + 45 que não estava funcionando, teria que trocar pelo + 60? Pensei nos fios brancos que estão aparecendo e na cor da tintura que deveria usar. Gente, quase me deu um troço! Sério! Não por envelhecer, pois acredito que quando chegar aos 60 (se Deus permitir), vou ter o maior orgulho de espalhar ao povo o quanto já vivi e contar minhas experiências, mas me senti acabada, desleixada, descuidada. Não suporto maquiagem, mas cuido da minha pele, das unhas, do cheiro bom em meu e do meu corpo, dos meus cabelos. Só não pinto porque não sinto necessidade ainda. Talvez até goste de cabelos brancos. Sei lá, nem pensei nisso ainda até o dia de antes-de-ontem.
Liguei para minha mãe. Desabafei com uma amiga. E hoje escrevendo isso, percebo o quanto fui imatura ao me deixar abalar por esse deslize do menino do balcão. Me lembrei quando tinha 12 anos e minha mãe fez 33 anos. Num sorriso lindo ela falou a mesa: "Estou feliz, hoje faço a idade de Cristo." Aquilo ficou gravado por minha vida inteira. Não conseguia pensar em outra coisa a não ser: "Como minha mãe é velha".
Hehehe...Essa vida é uma caixinha louca mesmo , não é? Somos feitos de emoção, de equilíbrio, desequilíbrio, de entendimentos, possibilidades, encontros, desencontros e apesar de estar envelhecendo ainda tenho muito que aprender.
E que venha meus 60, 70, 80...E que Deus me dê sabedoria para saber vivê-los.